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AMBIÇÃO
Ao chegar ao Brasil, Pedro Rousseff estabeleceu uma meta: ascender socialmente

 

Em 1929, o advogado Pétar Russév tomou uma decisão que mudaria a história do Brasil. Deixou a Bulgária, país comandado por uma monarquia fascista e com a economia arrasada por uma crise que se arrastava desde o fim da Primeira Guerra Mundial, para se estabelecer do outro lado do mundo. Desembarcou em Salvador, na Bahia, mas não gostou do que viu. Resolveu partir para Buenos Aires, onde permaneceria por quase uma década. No início dos anos 40 do século passado, instalou-se em São Paulo e começou a empreitar obras para a siderúrgica Mannesmann. Para fazer dinheiro, construía casas por conta própria e as revendia, sempre com bom lucro. Numa viagem a negócios para Uberaba, em Minas Gerais, conheceu a professora primária Dilma Jane Silva. Apaixonaram-se de imediato, fizeram planos para o futuro e decidiram iniciar nova vida na capital Belo Horizonte. Não tardou e os filhos vieram. Primeiro, Igor, nascido em janeiro. Depois, Dilma, em dezembro. Por fim, a caçula Zana, em 1951. A essa altura, o búlgaro já tinha alterado o nome para Pedro Rousseff – uma maneira de ao mesmo tempo aportuguesá-lo e sugerir uma ascendência francesa, o que poderia abrir portas na sociedade mineira.

O pai da presidente Dilma Rousseff era um homem resoluto. Ao aportar no Brasil, estabeleceu uma meta: ascender socialmente, algo que não conseguira em sua terra natal. Quando se tornou próspero, dono de uma dúzia de imóveis em Belo Horizonte, definiu outro objetivo: assegurar aos filhos uma educação de qualidade. Os três irmãos sempre estudaram nos melhores colégios de Belo Horizonte e o patriarca da família não aceitava notas que não estivessem entre as melhores da classe. Por decisão do pai, Dilma teve de estudar piano e fazer aulas de francês duas vezes por semana. A casa dos Rousseff sempre estava recheada de livros. Em seu acervo particular, constavam obras de filósofos gregos e poesia francesa. Pedro tinha ambição intelectual. Na Bulgária, frequentava rodas de poetas e foi amigo de Elisaveta Bagriana, um dos principais nomes da literatura do país. Também envolveu-se com política, filiando-se ao Partido Comunista da Bulgária. No Brasil, os negócios ocuparam a maior parte de seu tempo e a política e a literatura acabaram ficando de lado.

Se para a sociedade mineira Pedro fazia questão de se mostrar como uma pessoa séria, merecedora do respeito de seus pares (ele quase nunca era visto sem paletó e gravata e era um sujeito de poucas palavras), no mundo privado tinha gostos que revelam sua alma inquieta. Fumava de forma obsessiva, não economizava nas doses de uísque e apreciava um bom carteado. Fisicamente, era alguém que se impunha com seus quase dois metros de altura. Para a família, sempre demonstrou ser um homem feliz, realizado nos negócios e com uma vida muito melhor do que a que levara na Europa.

Um dos raros motivos de aflição era o búlgaro Luben Russév, filho do primeiro casamento de Pedro com a dona de casa Evdokia Yankova e que nasceu pouco tempo depois que ele veio tentar a sorte no Brasil. Pedro e Luben fizeram um primeiro contato em 1948, por carta apenas. Ao saber das dificuldades financeiras do filho búlgaro, Pedro decidiu enviar dinheiro. Para que a polícia local não percebesse, os dólares eram escondidos entre cartões-postais. Apesar das promessas, ele não conheceu o filho, que morreu em 2007. Pedro morreu em Belo Horizonte, provavelmente de ataque cardíaco, em uma noite de setembro de 1962. A filha Dilma tinha 14 anos.