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PLANOS
Lula vai criar uma fundação para abrigar acervo da
Presidência e servir de base para a atuação política

 

Um esboço do que será feito depois do desembarque do governo já povoa a mente de Luiz Inácio Lu­la da Sil­va. Mesmo depois de passar a faixa presidencial para Dilma Rousseff, Lula sabe que manterá seu protagonismo no cenário político nacional e inter­nacional. Na condição de um dos presidentes mais populares da his­tória do País, ele terá voz ativa na formulação de políticas aqui e além-mar. Seus planos para o futuro vêm sendo traçados nos últimos meses em conversas com familiares, amigos e assessores. No horizonte mais pró­ximo está a criação do Instituto ou Fundação Lula, uma futura orga­nização para abrigar o acervo acumulado durante a Presidência e servir de base para sua atuação política. É nesse local que Lula vai despachar a partir do próximo ano.

Para garantir, na prática, seus planos futuros, Lula encarregou o chefe do gabinete-adjunto da Presidência, Swedenberger Barbosa. Cabe a ele encontrar o formato jurídico dessa nova entidade. Berger, como é conhecido no Palácio do Planalto, também procura um local para funcionar como sede. O mais cotado, até agora, é um prédio na Vila Clementino, bairro da zona sul paulistana, onde ficava localizado o comitê central da campanha de Lula em 2002. Pelo menos três nomes muito próximos de Lula estão praticamente confirmados para integrar o corpo técnico do instituto: o ministro de Relações Exteriores, Celso Amorim, e os ex-ministros Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) e Márcio Thomaz Bastos (Justiça). Um grupo de empresários assíduos do gabinete presidencial já se ofereceu para financiar o projeto, mas os nomes dos patrocinadores estão sendo mantidos em absoluto sigilo.

No plano interno, Lula pretende articular uma frente ampla de partidos para dar sustentação e garantir estabilidade política ao novo governo. Seu sonho é juntar as forças políticas para construir um programa comum, capaz de fazer, inclusive, a reforma partidária. Ele também quer evitar que Dilma fique refém dos humores do PMDB, conhecido pelo seu apetite por cargos estratégicos. Como um antídoto, Lula planeja liderar uma espécie de concertação partidária, formada por todas as legendas governistas. No cenário internacional, Lula tem dito a assessores, como o chefe de gabinete, Gilberto Carvalho, o ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, e Marco Aurélio Garcia, que a experiência bem-sucedida de seus oito anos de governo na área social será “socializada” com os países da América do Sul, do Caribe e da África. “Lula está testando a receptividade desta ideia”, admite Marco Aurélio Garcia, assessor para Assuntos Internacionais do Palácio do Planalto. Para viabilizar essa espécie de caravana internacional, a intenção, expressa em várias reuniões com assessores, é montar uma seleta equipe de auxiliares com os que estiveram ao seu lado durante os dois mandatos. Uma prévia do papel que Lula pretende exercer no plano internacional pôde ser observada em maio durante abertura do evento Diálogo Brasil-África sobre Segurança Alimentar em Brasília. De acordo com um diplomata presente ao evento, “Lula vestiu o figurino de Mandela do combate à fome”. Em discurso, muito aplaudido, o presidente declarou que a vitória sobre a miséria está diretamente relacionada à soberania dos povos.
 

Nas três ocasiões em que foi derrotado na disputa para a Presidência, Lula investiu em modelos semelhantes aos que ele pretende implementar tão logo deixe o poder. Montou o Instituto da Cidadania, que agora está em processo de desativação, e percorreu o País nas caravanas batizadas com o mesmo nome. A diferença é que, dessa vez, não quer ser apenas um mero espectador da cena política. Ao influir na política interna e mostrar os caminhos para que os países mais pobres combatam a fome e a pobreza, Lula espera dar o passo definitivo rumo ao seleto rol das maiores personalidades políticas que o mundo já teve.