chamada.jpg
DECISÃO
Em todas as discussões que comanda,
Dilma sempre tem a última palavra

 

Quando assumir o mais alto posto de comando do País, na manhã do dia 1º de janeiro, Dilma Rousseff estará entrando em um ambiente que lhe é familiar. E isso não se deve ao fato de ela ter passado os últimos anos trabalhando a poucos metros do gabinete que vai ocupar agora. Mais do que um “animal político”, como o presidente Luiz Inácio Lula da Silva gosta de descrevê-la, Dilma é uma executiva nata, exigente e obcecada por resultados. A presidente eleita gosta de mandar.

Foi esse estilo que conquistou Lula. O estilo direto e eficaz, tão raro no serviço público, que permitiu à então ministra formar as bases do marco regulatório do setor elétrico de sua gestão, a catapultou para a Casa Civil após a saída de José Dirceu. Com a missão de fazer o governo andar, Dilma, mais do que nunca, adotou a postura de uma executiva ávida por resultados e que nunca aceita um não como resposta. “A sensação que tínhamos ao conversar com ela era de que não estávamos tratando com alguém do governo, mas sim com alguém da iniciativa privada”, afirma o presidente de uma das maiores empresas de construção civil do País, que participou de mais de uma dezena de reuniões com a presidente na época em que eram definidos os detalhes do programa Minha Casa Minha Vida. “Ela define objetivos e prazos, e não aceita que eles não sejam cumpridos.”

O ambiente na Casa Civil, nos tempos da ex-ministra e na campanha de Dilma à Presidência, era de permanente pressão. Intransigente com erros, Dilma cobra diuturnamente de secretários, assessores e quem estiver sob seu comando. Durante o período que coordenou a Casa Civil, nem mesmo os ministros, que na teoria são subordinados apenas ao presidente, escapavam de suas cobranças. Antes de se desincompatibilizar da Casa Civil, se um cronograma não era cumprido pelos demais ministros, Dilma, a pedido do presidente, entrava em cena para saber o que dera errado. Em reunião, no ano passado, com o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, e integrantes do Ibama, Dilma ordenou, de forma ríspida, que era proibido entregar estudo ambiental incompleto. “Isso é o mesmo que zero”, explicou.

Dilma é o que se convencionou chamar de workaholic. Mesmo durante a recuperação de um câncer linfático, no ano passado, alterou muito pouco sua carga de trabalho diária. Trabalhava 13 horas por dia. Reduziu em apenas três. No auge da disputa eleitoral, Dilma chegou a dormir de três a quatro horas por noite. Não raro, a presidente eleita exige a mesma dedicação de seus subordinados, que precisam adequar suas agendas à dela. Se o trabalho não vem benfeito, a reprimenda, normalmente, é pública. Muitas vezes, inclusive, diante do testemunho de colegas.

O estilo, incomum no setor público, pode desagradar a subordinados, mas, de acordo com ministros do governo, costuma dar certo. “O presidente Lula sempre elogiou essa maneira de Dilma conseguir resultados. Ela faz as coisas acontecerem”, diz Franklin Martins, ministro da Comunicação Social. Ela própria admite: é extremamente rigorosa. Em entrevista à ISTOÉ, ain­da em 2009, quando comandava o Ministério da Casa Civil, Dilma revelou como gosta de trabalhar. “Faço o advogado do diabo. Questiono até o limite. Isso gera estresse, mas acho que todos aprendem”, disse. “Sei que tenho que lidar com situações conflitantes. Faz parte do meu trabalho.”

Pressionados, os interlocutores fazem cara feia. Muitos falam mal dela pelas costas. Dilma não se importa. Desde que o resultado final seja satisfatório. “Tenho mesmo essa capacidade de gerenciar. Mas eu trabalho junto”, costuma repetir. Em toda campanha, Dilma ouviu mais do que o usual. Entre seus principais interlocutores estavam, além do presidente Lula, o deputado José Eduardo Cardozo, o presidente do PT, José Eduardo Dutra, e o ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci. Mas, embora estivesse sempre bem acompanhada de políticos experientes, não perdeu o seu estilo. Acatou conselhos, só que nunca deixou de dar a palavra final. Foi assim durante a definição da agenda da campanha, autorização para entrevistas e até na hora de articular os palanques e alianças regionais. “Ela é quem manda. Eu recebo ordens”, repete Palocci toda vez que especulam sobre sua grande influência na campanha.

img.jpg
COMANDO
A presidente eleita não aceita adiamentos
sem justificativa em prazos combinados