i53432.jpg

Ao cumprir agenda em Salvador esta semana, o presidente Lula voltou a apresentar a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, como sua candidata à sucessão de 2010. O gesto funcionou como um relançamento da candidatura. Mas não pôs fim aos rumores de que Lula está em busca de alternativas. Um forte indicador nesse sentido foi sua decisão de criar o cargo de coordenador dos programas sociais. Em princípio, a medida pretende desafogar a Casa Civil, pois hoje a coordenação é feita por Miriam Belchior, assessora especial de Dilma. Mas quem acompanha os ventos que sopram em Brasília concluiu rapidamente que o escolhido para a missão ganhará enorme projeção, até mesmo maior do que a da “mãe do PAC”. Primeiro nome citado, o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, mostrou a proverbial falta de ambição. Mas deixou escapar, em conversas informais com auxiliares, que a idéia foi sugerida ao Planalto pelo ministro da Educação, Fernando Haddad. O que faz de Haddad o favorito para a nova função. E mais: se enfeixar em suas mãos o controle de todas as ações sociais do governo, o jovial ministro assumirá, sem sombra de dúvida, o papel de opção preferencial à candidatura de Dilma. Haddad confirma que é o autor da proposta, mas nega qualquer motivação política. “Fiz uma sugestão de cunho administrativo, sem conotação política. O resto é pura especulação”, disse à ISTOÉ o ministro da Educação. “Defendi também que a tarefa seja entregue a um ministério-meio e não a um ministériofim, como Saúde e Educação. Para mim, o ideal é o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo.”

Por mais que Haddad tente se desvencilhar, poucos são os que acreditam numa escolha técnica, como a de Paulo Bernardo. Dá-se como certo que o presidente Lula usará o novo cargo para mover o tabuleiro político. No Palácio do Planalto, assessores de Lula comentam que as maiores chances são do secretáriogeral da Presidência, Luiz Dulci, e do ministro Patrus Ananias, mas admitem que Haddad corre por fora com ímpeto suficiente para gagonhar o páreo. A favor de Haddad, conta o seu desempenho à frente do Ministério da Educação. No cargo desde 2005, quando substituiu Tarso Genro, o doutor em filosofia pela USP encantou o presidente e conquistou também a simpatia da primeira-dama Marisa Silva, com iniciativas como o Prouni (Universidade para todos) e a Prova Brasil, que avalia alunos de quarta a oitava série do ensino fundamental. Em 2007, foram avaliados 4,5 milhões de estudantes. Outra bandeira é o Fundeb, que destinará R$ 3 bilhões para o ensino básico este ano. Uma das metas é construir dez mil creches no País.

i53433.jpgO vento, sem dúvida, sopra a favor de Haddad. Mas ele faz questão de descartar qualquer pretensão política. Garante que é quase certo que, ao fim do governo Lula, retornará à vida acadêmica. “Estou há dez anos fora da universidade, aproximase a hora de voltar”, diz. Ele ingressou na vida pública pelas mãos do economista João Sayad, como chefe de gabinete da Secretaria de Finanças da Prefeitura de São Paulo, em 2001, na gestão Marta Suplicy. Mas é exatamente seu perfil que põe em dúvida a falta de ambição política.

Filho de um lojista da rua 25 de Março, no centro velho de São Paulo, formou-se em direito pela USP em 1985. Apaixonou-se pelo ideário de esquerda, aderiu ao movimento Liberdade e Luta (Libelu) e dedicou a tese de mestrado, em 1990, ao estudo do “Caráter socio-econômico do sistema soviético”. Sua tese de doutorado em filosofia pela USP, defendida em 1996, correu no mesmo leito – De Marx a Habermas, o Materialismo Histórico e seu Paradigma Adequado. Atualmente, Haddad, 45 anos, continua a freqüentar as rodas marxistas organizadas pelo orientador de sua tese, o professor Paulo Arantes. E faz questão de se identificar como um intelectual fiel às idéias de Karl Marx. Na entrevista à ISTOÉ em seu gabinete, perguntado se, a exemplo do ministro Patrus Ananias, “entregaria a Deus” seu futuro político, Haddad insistiu em que não é candidato a nada e fez uma ressalva em relação à religiosidade do mineiro Patrus: “Minhas convicções são mais materialistas.”