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Em um país marcado pelo sincretismo ideológico, as discussões dessas ideias misturadas, projetos e visões de mundo têm se tornado irrelevantes em tempos de eleição. Nesta não foi diferente. Raros foram os casos em que os principais candidatos à Presidência da República divergiram de forma aguda sobre temas centrais para o Brasil, como a condução da política econômica, os programas sociais ou mesmo o papel que o Brasil deve ter no cenário internacional. Cada um deles até pode ter visões distintas e particulares de temas tão importantes, mas foram poucos os momentos em que elas vieram à tona na corrida pelo Planalto. Com a aprovação recorde do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, todos, de uma forma ou de outra, entraram em uma batalha midiática para convencer os eleitores sobre seu empenho em dar continuidade ao governo atual. “A sensação que fica deste processo eleitoral é a de que, no atacado, todos os candidatos estão prometendo a mesma coisa”, diz o cientista político Gaudêncio Torquato.

No varejo, no entanto, essas eleições presidenciais registraram um festival de promessas que por pouco não cruzam a fronteira da irresponsabilidade. Por conta da proximidade com o pleito, os compromissos de campanha ganharam tons quase verborrágicos. Nas últimas semanas o candidato do PSDB, José Serra, mandou às favas todo o seu histórico de defensor da austeridade fiscal e prometeu, de sopetão, um pacote de beneficíos sociais capazes de fazer o presidente Lula ser tachado de neoliberal. Não satisfeito, o candidato tucano garantiu que vai construir nada menos do que 20 quilômetros de metrô nas principais capitais brasileiras em seus quatro anos de mandato, cinco vezes mais do que seu partido construiu em 16 anos governando o Estado de São Paulo. Perguntado a respeito de onde tiraria tanto dinheiro para cumprir promessas de campanha tão ambiciosas, foi lacônico: “Vou cortar os desperdícios.”

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IGUAIS
Dilma, Serra e Marina prometem
dar continuidade ao governo Lula

As promessas de Serra se explicam pelo fato de ele correr sérios riscos de ver as eleições encerrarem-se no dia 3 de outubro com uma derrota acachapante para Dilma Rousseff (PT). Já as da candidata governista, que tem mais de 20 pontos de vantagem nas pesquisas eleitorais em relação ao concorrente tucano, parecem ser feitas sob medida para que não haja risco de a disputa ir para o segundo turno. Nas últimas semanas, Dilma desandou a prometer que acabará com dois problemas crônicos e históricos do Brasil: a miséria e a falta de moradia. De acordo com ela, sendo eleita irá pôr fim no déficit habitacional brasileiro, que hoje chega a cinco milhões de casas em todas as regiões do País.

Até Marina Silva (PV), que iniciou a campanha prometendo discutir um novo projeto de desenvolvimento para o Brasil, acabou sucumbindo à tentação de prometer. Embalada pelo crescimento nas pesquisas nas últimas semanas, Marina tem garantido que vai iniciar um processo inédito de transparência das contas públicas, caso seja a dona do gabinete presidencial do Palácio do Planalto. Para completar, prometeu simplesmente dobrar o orçamento do Ministério da Cultura.

AO VENTO
Dilma garante que acabará com a pobreza, Serra diz que vai
aumentar o salário mínimo e Marina promete dobrar o orçamento da Cultura

Assim como nas promessas de atacado, os três principais candidatos também têm algo em comum naquelas feitas na ponta do balcão da reta final das eleições. Todas as garantias são louváveis e abordam pontos sensíveis para a opinião pública brasileira, assim como são extremamente complicadas de serem cumpridas. Aliás, os três têm ainda um terceiro ponto em comum nesse campo nebuloso. Nenhum deles registrou no TSE um programa de governo explicando como vai cumprir essas bem intencionadas – e pouco plausíveis – promessas.