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GOL CONTRA
Mais da metade dos jovens jogadores paulistas está
em situação educacional irregular

Não é novidade que muitos dos jogadores de futebol brasileiros não tiveram acesso à educação. É comum, por exemplo, ver atletas tidos como embaixadores do País no Exterior derraparem no português. Era de supor que os clubes que acolhem muitos desses jogadores ainda nas categorias de base, quando eles têm 14 anos e estão na escola, estivessem trabalhando para reverter o problema. Mas não é isso que tem acontecido. Um levantamento recente com atletas menores de idade que jogaram na Copa São Paulo de Futebol Júnior de 2009 foi revelador: 239 dos 458 atletas que participaram do campeonato, ou seja mais da metade, estavam em situa­ção educacional irregular – sem matrícula, com rendimento ou frequência abaixo da média ou sem vida estudantil acompanhada. “E foi um levantamento parcial, com apenas 40 clubes”, diz o deputado estadual Raul Marcelo (PSOL-SP), que obteve os dados. “Já pedimos os documentos dos outros 92 clubes federados do Estado, o que dá cerca de dois mil atletas.”

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Uma lei estadual de autoria do próprio Marcelo determina que os times paulistas têm a responsabilidade de manter os jogadores menores de idade na escola e com rendimento na média. Os clubes com irregularidades podem ser multados em R$ 4 mil por atleta faltoso. Reincidentes podem ser suspensos. É uma lei dura, válida apenas em São Paulo, mas que tem impulsionado a fiscalização da educação dos jogadores mirins pelo País.

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NO SÃO PAULO
No clube, aulas diárias de reforço
são obrigatórias

Em pelo menos outros quatro Estados – Rio de Janeiro, Amazonas, Mato Grosso e Goiânia – há projetos de lei semelhantes ao paulista. “Ninguém é contra as categorias de base ou o futebol profissional entre menores de idade, mas isso não pode ser feito em detrimento da educação do atleta”, ressalta Luiz Antônio Miguel Ferreira, promotor de Justiça da Infância e da Juventude que tem se debruçado sobre a situação escolar de jogadores menores de idade. Números do Sindicato dos Atletas Profissionais de São Paulo (Sapesp) reforçam o discurso do promotor. Apenas um em cada mil atletas que tentam a carreira de jogador profissional é bem-sucedido.
Nem todos, porém, acham que é por meio de leis estaduais que o problema deve ser enfrentado. Para a Federação Paulista de Futebol (FPF), a lei é inconstitucional por legislar em nível estadual o que é de âmbito federal. O presidente da FPF, Marco Polo del Nero, argumenta ainda que o projeto de Marcelo é redundante porque já há leis federais que tratam do assunto. “Estranhei ele ter limitado a lei dele ao futebol”, diz Del Nero. “Ele quer chamar a a­tenção”, polemiza.

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NEYMAR
Não parece, mas ele teve apoio em
sua formação

Talvez chamar a atenção seja necessário mesmo, uma vez que clubes com estrutura educacional e acompanhamento intensivo dos alunos jogadores são exceções. Se nos grandes como São Paulo, Grêmio, Cruzeiro e Santos há professores para dar aulas de reforço além de pedagogos, psicólogos e assistentes sociais, em clubes menores há pressão para privilegiar o futebol em detrimento da educação. E, como nos mostrou o atacante Neymar (um talento egresso da categoria de base do Santos), em seu último arroubo egocêntrico no jogo contra o Atlético Goianiense, se com educação já há problemas, imagina sem. “Dar o mínimo de subsídios para que os craques sirvam de exemplo é nossa obrigação”, afirma o deputado.