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Cientistas do Brasil, da Alemanha e dos EUA montaram uma torre de 40 metros em plena Floresta Amazônica para coletar algo raro no nosso planeta: ar 100% livre de poluentes. O estudo vem sendo desenvolvido há 25 anos pela Universidade de São Paulo (USP) e tem a parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), a Universidade de Harvard, nos EUA, e o Instituto Max Planck, da Alemanha.

“Além da Antártida, a Amazônia é o único local no planeta onde podemos observar o ar exatamente como ele era há 200, 300 anos”, afirma o pesquisador do laboratório de física da atmosfera do Instituto de Física da USP, Paulo Artaxo, que coordena o projeto. Sem os poluentes encontrados nos centros urbanos, que acabam impedindo uma visão clara do mecanismo de formação e condensação das nuvens, os cientistas podem ter uma ideia de como a nossa atmosfera era antes da revolução industrial e saber como as partículas se comportam sem a presença de poluentes.

O ar limpo da Amazônia vai servir como uma espécie de “grupo de controle” para determinar os efeitos que a poluição e outras mudanças causadas pelo homem podem ter no meio ambiente. “Para fazer previsões de clima do futuro, precisamos compreender o clima do passado”, diz Artaxo. A principal descoberta nesse contexto diz respeito à composição das nuvens. Os cientistas conseguiram medir o tamanho da influência da floresta no clima. De acordo com o estudo, as plantas emitem micropartículas na atmosfera que são diretamente responsáveis pela formação das nuvens.

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DESBRAVADORES
Uma torre de 40 metros foi instalada
para coletar partículas aéreas na floresta

“A floresta altera o clima e o clima altera a floresta, o que já era de certa forma conhecido. Mas agora  conseguimos medir isso de maneira física, biológica e química”, explica o pesquisador da área de química ambiental da Universidade de Harvard, Scot Martin. Isso também ajuda a compreender a gravidade dos danos causados pela ação humana. A alta atividade biológica controlando processos atmosféricos da região Amazônica mostra que os seres vivos de nosso planeta de certo modo moldam o meio ambiente de acordo com suas necessidades. Mas, quando a poluição industrial domina, esses mecanismos são suprimidos.

Um dos gases encontrados no ar da floresta foi o aerossol. Ali, a substância não tem o papel de vilão atribuído por quem está acostumado a evitar as latas de spray de CFC (clorofluorcarboneto). Isso porque na atmosfera da floresta a concentração é 100 vezes menor do que nos centros urbanos, e a substância acaba contribuindo no processo de formação das gotículas que compõem as nuvens.

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