Na semana passada, o secretário de Segurança Pública de São Paulo, Ronaldo Marzagão, pediu demissão. Caiu desgastado com as denúncias de que seu ex-adjunto, Lauro Malheiros Neto, vendia por até R$ 300 mil cargos de delegados no Estado mais rico do País. Se era esse o preço do pedágio para comandar um alto comissariado de polícia paulista, como se daria o "retorno do investimento"? Comércio de algemas? Venda de proteção? Chantagem? Apropriação parcial das cargas ou das drogas apreendidas em ações policiais? Embora Marzagão negue as denúncias, há imagens em vídeo de Malheiros expondo uma espécie de tabela de preços – e as seccionais de bairros mais nobres, aparentemente, eram mais caras. Embora a crise tenha sido rapidamente solucionada, ficou feio para o governo de José Serra.

Também na semana passada, o delegado federal Protógenes Queiroz, que se converteu em celebridade nacional, foi indiciado pela própria Polícia Federal. Caiu acusado de compartilhar ilegalmente dados sigilosos da Operação Satiagraha com dezenas de homens da Agência Brasileira de Inteligência. Pelo que a corregedoria da PF apurou, sabe-se que vários escritórios particulares de espionagem também participaram da ação, mas ainda não se fez uma pergunta básica. Se tanta gente de fora dos quadros da polícia foi mobilizada, quem pagou pelos serviços dos detetives? De onde veio o patrocínio privado da causa? Certamente, não do bolso do delegado.

Histórias de homens da lei que se convertem em criminosos não são raridade no País. No ano passado, Álvaro Lins, ex-chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro, foi preso, acusado por formação de quadrilha, lavagem de dinheiro e facilitação do contrabando. Na própria Polícia Federal, cuja eficiência tem sido tão alardeada pelo governo nos últimos anos, dezenas de policiais respondem a inquéritos internos por desvios graves de conduta. E um dos primeiros sambas da história brasileira, a canção Pelo telefone, de Donga, já dizia que o "chefe da polícia" avisava aos malandros de outrora onde era possível jogar uma roleta em paz.

Diante disso, caem por terra os argumentos de que o Brasil estava à beira de mergulhar num Estado policial. Na verdade, está onde sempre esteve – num lamaçal em que todas as sinecuras do Estado, inclusive as delegacias, geram seu próprio fundo de comércio. Ao que parece, bastante rentável.