Até pouco tempo atrás, o tenista americano Andre Agassi era reconhecido por ser um popstar do esporte – tanto por suas vitórias quanto por ter se casado com beldades do quilate da atriz Brooke Shields e da colega de quadras Steffi Graf. Depois de lançar, na segunda-feira 9, sua biografia, “Open – An Autobiography”, o esportista entrou para o mundo das celebridades polêmicas.

No livro bombástico, Agassi admite ter usado drogas, diz que perdeu jogos de propósito e brinda vários oponentes de quadra com adjetivos nada elogiosos.

Sobre o americano Pete Sampras, afirma que “é mais robótico que um papagaio”, refere-se a Boris Becker como “maldito alemão” e admite que ficou “com vontade de vomitar” quando o também americano Michael Chang venceu o torneio de Roland Garros (França), em 1989. Para o ex-tenista brasileiro Fernando Meligeni, que enfrentou Agassi quatro vezes, o mais grave é a revelação de que a Associação de Tenistas Profissionais (ATP) tinha conhecimento de que Agassi jogou sob o efeito de maconha e de uma droga chamada crystal meth (espécie de metanfetamina, um estimulante).

“Se for verdade, descobrimos que a entidade internacional não protege os tenistas, mas sim um tenista: Andre Agassi”, reclamou Meligeni à ISTOÉ. Outras personalidades do mundo do tênis também criticaram a biografia e seu autor.

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CONTROVÉRSIA
O livro bombástico de Agassi mancha uma das carreiras
mais vitoriosas da história do tênis

Agassi conseguiu deixar sua marca pessoal durante os 20 anos em que passou nas quadras – ele encerrou a carreira em 2006. Conquistou quase 60 títulos e é um dos quatro tenistas da história a vencer todos os torneios que integram o Grand Slam (Wimbledon, Roland Garros, US Open e Aberto da Austrália).

Em 1996, ganhou a medalha de ouro na Olimpíada de Atlanta, nos Estados Unidos. Somente com as participações em circuitos profissionais, estima-se que sua premiação tenha chegado a US$ 30 milhões. Além de se destacar no esporte, Agassi também ditou tendências. Quebrou a tradição dos formais uniformes brancos e jogou várias vezes usando bermudas jeans ou roupas coloridas. Depois dele, muitos passaram a fazer o mesmo, inclusive o brasileiro Gustavo Kuerten.

Foi esse estilo descontraído que seduziu a atriz Brooke Shields, com quem se casou, em 1997. O clima de amor entre os dois, no entanto, não durou muito e logo depois da união vieram os desentendimentos, coincidindo com uma má fase nas quadras. No mesmo ano de 1997, Agassi caiu em depressão e acabou recorrendo às drogas. Mais precisamente, maconha e metanfetamina. “Nunca senti tanta energia”, escreveu ele.

O casamento durou dois anos.

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Flagrado num exame antidoping naquele ano, o ex-tenista enviou carta à ATP se desculpando e argumentando que não tinha feito propositalmente. “Disse que havia consumido acidentalmente um refrigerante com a droga misturada por meu ex-assistente (…) Pedi que eles me perdoassem e ainda por cima assinei ‘sinceramente, Andre Agassi’. Senti-me envergonhado e prometi a mim mesmo que a mentira terminaria naquela carta”, escreveu.

Para o ortopedista Rogério Silva, coordenador médico da Confederação Brasileira de Tênis, o silêncio da ATP quanto ao doping de Agassi enche a todos de perplexidade. “Passamos vários anos cobrando de nossos tenistas que ficassem limpos, repetimos que os oponentes eram submetidos a exames antidoping”, afirma.“E agora, com que cara ficamos?” Para Silva, vai ser difícil apurar os fatos, depois de tanto tempo. Ele se diz curioso para saber os motivos que levaram Agassi a fazer tais confissões.

“Se é para manter a consciência limpa, deveria também devolver os prêmios e troféus.” É exatamente o que pede o tenista espanhol Sergi Bruguera, que perdeu a medalha de ouro olímpica para o americano, em 1996. Caso Agassi ficasse sem a medalha, isso beneficiaria Meligeni, que chegou em quarto e passaria a ser medalha de bronze. O brasileiro, no entanto, se mostra incrédulo. “Ele admite apenas ter usado metanfetamina em 1997 e a Olimpíada foi um ano antes, não tem nada a ver”, diz Meligeni.

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Sobre a união com a atriz Brooke Shields (1997-1999):
“Eu tinha 27 anos, posicionado como o 141o do ranking mundial e metido num casamento onde eu não deveria estar….”

Poucos foram tão condescendentes quanto Meligeni. Ex-líder do ranking mundial, o russo Marat Safin também pediu que Agassi entregasse à ATP os seus títulos. “Se ele é tão limpo, deveria devolvê-los e fazer o reembolso dos prêmios.”

Safin atribui tudo a um golpe de marketing. “Ele espera vender mais livros, mas é completamente estúpido.” Agassi revelou também que perdeu alguns jogos de propósito, como foi o caso da semifinal do Aberto da Austrália, quando teria entregado o jogo para Michael Chang, evitando, assim, enfrentar Boris Becker na final.

Em outro trecho, relata que, quando criança, tomou antes de um jogo o analgésico Excedrin, que contém cafeína, por orientação do pai. Agassi, atualmente com 39 anos, é casado com a ex-campeã de tênis Steffi Graf. Antes e depois do lançamento de “Open”, ele deu entrevistas à imprensa dos EUA e da Inglaterra, que estenderam as polêmicas reveladas no livro.

Uma delas deve ter sido especialmente dolorosa para ele: a de que atuou com uma peruca, depois do estrago causado na cabeleira por um xampu. “Claro que eu poderia ter jogado sem peruca, mas eu estava muito preocupado. Imagem é tudo?” Para alguém tão vaidoso quanto Agassi – hoje careca –, esse deve ter sido um dos trechos mais dolorosos de escrever.

Sobre a vitória de Michael Chang na França:
“Ele dava graças a Deus e atribuía suas vitórias a Deus, e isso me irritava muito. Por que Deus se importaria com uma partida de tênis? E por que ele se colocaria contra mim e a favor do Chang? Isso é ridículo. Quando ele venceu Roland Garros, em 1989, fiquei com vontade de vomitar.”