Pelo que carrega de surreal e inadmissível, o episódio que culminou com a expulsão e posterior readmissão da estudante Geisy Arruda pela Universidade Bandeirante (Uniban), de São Paulo, desfralda para o País os perigos do irracional coletivo e os limites do despreparo de algumas instituições de ensino. O misto de preconceito com a falta de habilidade tomou conta daquela universidade e acabou por incitar comportamentos retrógrados, quase bárbaros, de violência aberta contra a estudante.

Geisy foi xingada, perseguida, ameaçada, encurralada, humilhada e quase linchada nas dependências da escola por conta de um vestido curto, sob o beneplácito de seguranças impassíveis que assistiam a tudo de braços cruzados. Ato contínuo, a Uniban cuja missão primordial deveria ser, acima de tudo, ensinar lições de cidadania – passou à execração pública da estudante.

Estampou em páginas de jornais um surpreendente comunicado da expulsão de Geisy, convertendo a vítima em ré, num constrangimento tão imoral como ilegal. Fez uma espécie de julgamento sumário, em clara afronta ao direito de defesa. Voltou depois atrás, pressionada por um amplo leque de entidades como o MEC, ONGs de defesa dos direitos da mulher, OAB, ABI, UNE, Congresso e por protestos de uma sociedade civil indignada que queria respostas ao ato de covardia.

Entre idas e vindas, a Uniban deu demonstrações da tibieza de seus atos, pautados, ao que parece, por instintos muito mais de natureza mercantilista omo o do temor da fuga de matrículas. Representantes da universidade hesitaram em entrevistas. Buscaram justificar o injustifi ável, num ranço de moralismo hipócrita com prepotência e equívocos de gestão de toda ordem.

Chegaram a apontar que a reação dos estudantes foi uma “defesa do ambiente escolar” e que Geisy mostrava “atitudes provocativas”, argumento que remete à intolerável ideia, defendida por marginais, de que até o estupro tem suas razões de ser, dadas as circunstânciase supostas insinuações da vítima. Cabe a pergunta: pelo que se viu na prática, o que estarão os alunos da Uniban aprendendo de teoria nas salas de aula? Qual será a formação moral e acadêmica desses alunos? Se é permissível o fanatismo coletivo, tal e qual o de bando de arruaceiros, desrespeitando princípios básicos de civilidade nas dependências da universidade, como vêm sendo preparados esses jovens?

Ao fazer o impensável, ao referendar a caçada irracional de Geisy e ao punila num primeiro momento com a expulsão, a Uniban movida sabe-se lá por algum puritanismo descabido desconsiderou premissas básicas como a de zelar pela educação e pela segurança dos estudantes, cujos pais pagam regiamente, imaginando dar o melhor aprendizado aos seus fi hos. Policiais tiveram de ser chamados de fora para fazer a proteção que Geisy não encontrou lá dentro.

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Em todo o seu espectro, o episódio constituiu-se num marco de retrocesso que deve ser prontamente rechaçado pela sociedade e condenado pelos organismos competentes – não deve jamais se esgotar na mera readmissão de Geysa.


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