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DESAFIO Eraldo Gueiros encara uma onda de 20 metros em Jaws, no Havaí

 

Tudo parecia perdido quando Carlos Burle decidiu mudar a direção de sua prancha para ganhar velocidade. Atrás dele, uma montanha d’água de aproximadamente 23 metros erguiase implacavelmente. Naquele momento, o caçador de ondas gigantes virara a caça, perseguido por toda a fúria do oceano Pacífico no inóspito lugar que recebeu dos surfistas a curiosa alcunha de “Ghost Tree” (Árvore Fantasma), no norte da Califórnia. “Minha prancha quicava na parede da onda e eu voava, mas não podia perder o controle. Eu lutava pela minha sobrevivência”, descreve o pernambucano Burle, 40 anos. Felizmente, a manobra surtiu efeito e o brasileiro corrigiu sua trajetória para escapar do final comum a todas as ondas do local: explodir nas pedras.

 

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ATITUDE Maya conquistou respeito

Uma das maiores já surfadas em todos os tempos, a onda de Burle foi parar na capa da revista americana Surfer, a bíblia do esporte. Mais: alçou-o à condição de favorito ao prêmio oferecido para quem surfar a maior onda do inverno do Hemisfério Norte (de dezembro a março). O vencedor será anunciado em abril e, caso seja escolhido, Burle será o primeiro surfista a receber por duas vezes tal honraria. Na temporada 2001/2002, ele faturou US$ 50 mil ao descer uma onda estimada em 22,5 metros, em Mavericks (EUA). Os seis anos que levou para repetir sua melhor performance ilustram bem o grau de dificuldade da façanha. Enquanto as estatísticas oficiais registram que cerca de 2.500 pessoas já chegaram ao topo do Monte Everest, bastam os dedos das mãos para contar quantos já pegaram uma onda como os dois vagalhões domados por Burle.

“Na hora que você pega a onda, está tão concentrado e envolvido que não dá para saber o tamanho real dela. É subjetivo afirmar qual foi a maior”, diz Burle, ao comparar as duas. De fato, fica muito difícil mensurar os centímetros com exatidão, ainda mais nos dias de hoje, quando as maiores ondas surfadas ultrapassam facilmente os 20 metros de altura. Há pouco mais de uma década, o limite era apenas a metade disso. Foi o advento do tow-in (vertente do esporte onde o surfista é impulsionado para a onda por um jet ski) que permitiu tamanho progresso. Os riscos dentro d’água também aumentaram consideravelmente. No mesmo dia em que Burle cobriu- se de glórias, o americano Peter Davi, exímio conhecedor do local, morreu afogado em Ghost Tree. Em condições extremas, o surfe deixa de ser uma disputa entre atletas e vira um desafio entre o homem e a natureza. “Colocamos a vida na mão do outro, é preciso muita confiança ”, diz Eraldo Gueiros, também pernambucano, 42 anos, parceiro de Burle na busca por ondas gigantes. Um reboca o outro para as ondas – e quem pilota o jet ski também é responsável pelo resgate, caso seja necessário.

 

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BIS Burle concorre ao bicampeonato

Nesta temporada, a dupla ganhou a companhia da carioca Maya Gabeira, filha do deputado Fernando Gabeira (PV-RJ). Em um ambiente extremamente másculo, Maya, 20 anos, conquistou respeito com manobras corajosas e concorre ao bicampeonato da melhor performance feminina em ondas gigantes. “Quando as ondas sobem, deixo minha vaidade de lado e sou mais atleta do que mulher. Só percebo o quanto relaxei com a aparência depois, quando a adrenalina baixa”, reconhece. “Aí corro para o cabeleireiro, faço depilação, unhas…”, diverBIS Burle concorre ao bicampeonato te-se a pupila de Burle.