Votar em Dilma Rousseff não é tarefa simples. Na verdade, é algo bem mais complexo do que comparecer à seção eleitoral e cravar o 13 na urna eletrônica. Por maiores que tenham sido os progressos recentes na área econômica, há sérias dúvidas sobre  a personalidade da candidata, seu equilíbrio emocional e sua capacidade de administrar as gigantescas pressões por favores oficiais que partirão de seus próprios aliados, em especial  o PT e o PMDB. Além disso, o povo brasileiro terá de rebaixar suas expectativas em relação à Presidência da República. Nem Dilma nem qualquer outro dos pretendentes ao cargo possuem as qualidades, a história ou a densidade política dos dois últimos que sentaram na cadeira. E talvez o Brasil chegue à conclusão de que tanto Lula como Fernando Henrique Cardoso foram pontos fora da curva na história republicana. Um luxo de 16 anos, que não mais se repetirá.

Dilma, no entanto, tem contado com uma contribuição inestimável dos adversários, particularmente do PSDB. A busca por um escândalo bombástico ou por uma bala de prata que atinja o peito da candidata tem sido tão frenética e tão flagrante que acaba deixando evidentes as digitais e a motivação eleitoreira. Mal saem do forno, as denúncias já são recicladas para aparecer no programa de José Serra. Uma estratégia desesperada de quem jamais imaginaria estar numa posição tão desfavorável a pouco tempo das eleições – e que, além do mais, não funciona. O uso da quebra do sigilo fiscal da filha numa tentativa de vitimização, com o discurso “seremos todos Francenildos”, não conquistou o voto nem do ex-caseiro. E a tática de carimbar o governo Lula como uma central de corrupção serviu para derrubar a ministra Erenice Guerra, mas pode também se revelar igualmente ineficaz, uma vez que o eleitor repudia a hipocrisia e o falso moralismo, guardando na memória todos os escândalos de governos anteriores, incluindo os do PSDB.

A candidata do PT conta ainda com um trunfo. É provável que ela se beneficie de um novo “voto útil”. Para a grande maioria dos eleitores, que provavelmente não compareceriam às urnas se o voto fosse facultativo, será conveniente resolver a peleja já no primeiro turno. Assim, acabará logo o show de horrores e o festival de escândalos calculados para eclodir às vésperas da eleição. E José Serra, se continuar batendo na mesma tecla, correrá o risco de chegar atrás de Marina Silva, a única que tem pregado o debate no lugar do embate. E cuja tendência de crescimento sobre Serra já vem sendo captada em pesquisas qualitativas. O que demonstra que a bala de prata, na verdade, é uma gigantesca bola de chumbo amarrada ao tornozelo de José Serra.