A contundência das palavras é inequívoca: “Eu vejo um presidente que virou chefe de uma facção”, disse Fernando Henrique Cardoso no blog do seu partido. “Aconselho Lula a não ingerir bebida alcoólica”, apela Jorge Bornhausen, do DEM. “Nós precisamos extirpar o DEM da política brasileira”, rebate Lula. “Esse governo é uma mistura de incompetência, desconhecimento da realidade e falta de propostas”, afirma o candidato José Serra. “Para quem disse que queria acabar com a minha raça, sou sobrevivente de um processo de extermínio”, reage a candidata Dilma Rousseff . Definitivamente o jogo sujo está no ar. Como propostas de mudança ou plataformas de governo não estão vingando dentro das trincheiras da oposição, a saída foi mesmo partir para o bate-boca vazio e sem sentido, que em nada colabora para o processo democrático. O eleitor assiste atônito e impotente – e até desinteressado, visto que nem sequer está mudando seu voto por influência desses acontecimentos, como comprovam as pesquisas. O festival de dossiês, denúncias de última hora e escândalos variados turva o debate.

O caso do momento, envolvendo a ex-ministra-chefe da Casa Civil, Erenice Guerra, sob acusação de que familiares seus atuaram na facilitação de contratos do governo com empresas privadas, foi colocado como a bala de prata da campanha. O fato é que o governo agiu, afastando a ministra, assim como o fez criando medidas de controle para a Receita. A denúncia contra Erenice é grave, mas, como manda o bom princípio legal, ainda precisa ser devidamente apurada em todos os detalhes antes de um julgamento fi nal. O uso político do episódio é condenável e mostra um oportunismo eleitoreiro desmedido. Erenice Guerra, que entregou sua carta de demissão na quinta-feira 16, concedeu logo a seguir uma entrevista exclusiva à ISTOÉ na qual dá a sua versão dos fatos. A ministra se afastou em meio ao bombardeio das acusações, mas o combustível de ilações para alterar o resultado nas urnas continua queimando. A presidenciável Marina Silva diz que “a politização da denúncia, com direcionamento eleitoral, é um equívoco”. Seu opositor, Plínio de Arruda, vai na mesma direção e alega que “o vale-tudo estraga o processo eleitoral”. Lamentável que nem todos na corrida às urnas pensem assim. Os brasileiros poderiam estar experimentando um amadurecimento das instituições, com uma disputa centrada nas propostas. Mas a batalha pelo voto seguiu na via contrária. E quem perde é o País.