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FRANCO ATIRADOR O costureiro não poupava ninguém de sua língua afiada, por isso colecionou desafetos

O deputado federal Clodovil Hernandes (PR-SP), 71 anos, queria comemorar sua absolvição da acusação de infidelidade partidária. Ele tinha até preparado o jantar que serviria ao presidente da Câmara, Michel Temer, que combinou de visitá-lo na noite da terça-feira 17. Mas Clodovil não recebeu Temer. O polêmico e talentoso estilista que fez fama na televisão e, em 2006, resolveu virar político morreu às 18h50 daquela mesma terça-feira, um dia depois de sofrer um derrame cerebral. Eleito com a terceira maior votação do Estado, Clodovil conquistou seus 491.951 votos à custa de décadas sob os holofotes e muitas alfinetadas.

O Brasil descobriu Clodovil em 1960, quando, aos 23 anos, ele ganhou o concurso Agulhas de Ouro. Já ali mostrou ter língua afiada para criticar seu mentor, o estilista Dener. Para Clô, como costumava ser chamado, Dener, o grande costureiro da época, representava o passado e ele o futuro. "Ele sempre foi bagunceiro, mas atrás da bagunça tinha conteúdo", diz Jô Clemente, fundadora da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae), amiga e cliente de Clodovil.

O costureiro não costumava medir palavras, principalmente quando dava declarações sobre pessoas públicas. Uma delas, a ex-prefeita Marta Suplicy, foi chamada de "perua que deu sorte". Já a deputada federal Cida Diogo (PT-RJ) foi classificada como feia demais até para se prostituir. No convívio diário, Clodovil não era diferente. Sua cozinheira Maria Guimarães diz que ele sempre foi passional. "Ele me dava bronca, me xingava, mas logo depois vinha cantando para me agradar", conta Maria, que, como Jô Clemente, foi ao Hall Monumental da Assembleia Legislativa de São Paulo para o último adeus ao amigo.

No velório estavam representadas todas as fases da vida de Clodovil. Havia empregados de sua casa em Ubatuba, no litoral de São Paulo, colegas dos tempos de televisão, membros da comunidade gay e muitos políticos. Segundo a advogada do estilista, que era órfão e não tinha parentes, Maria Hebe Pereira de Queiroz, a casa de praia será transformada em instituição para cuidar de meninas orfãs e deverá se chamar Casa Clô. Os oito cachorros, todos da raça pug, ficarão com amigos.

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