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Nos próximos dias, a Petrobras vai estar no epicentro de uma das mais importantes operações econômicas já realizadas no mundo. A partir da segunda-feira 13, a gigante do petróleo inicia o maior lançamento de ações da história do capitalismo, superando – de longe – negócios semelhantes feitos em países como Estados Unidos, Japão e China, líderes globais em investimentos em bolsa. A capitalização (nome que se dá ao processo) da Petrobras traz números espantosos. Ela pode render até US$ 132 bilhões à companhia (US$ 90 bilhões por parte de investidores privados e US$ 42 bilhões do governo, que vai ceder à empresa 4,9 bilhões de barris de petróleo encontrados no subsolo do País). O valor equivale a quase todo o PIB do Chile e eleva a Petrobras à categoria de terceira maior corporação das Américas em valor de mercado, atrás apenas da Exxon e da Apple e à frente de ícones americanos, como Microsoft, Walmart e GE. Mas a capitalização não afeta apenas o universo corporativo. Para milhares de brasileiros, ela pode representar uma oportunidade de ouro. Basta dar uma olhada no passado. Em 2000, a Petrobras colocou ações à venda no mercado. Na última década, quem manteve seu dinheiro aplicado em papéis da empresa viu o patrimônio aumentar 700% (quase cinco vezes mais do que o desempenho da poupança no mesmo período.) Por isso mesmo, estima-se que um contingente de 150 mil investidores compre as novas ações da Petrobras. Trata-se de mais um número superlativo para o repertório da empresa. Atualmente, 600 mil brasileiros aplicam na bolsa de valores. Ou seja, de uma tacada só a Petrobras pode aumentar em impressionantes 25% o total de participantes do mercado acionário brasileiro.

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MULTIPLICAÇÃO
O economista Nilo Assis viu suas ações da Petrobras darem
um retorno de 700%, maior do que qualquer aplicação

Quando uma pessoa compra uma ação de uma empresa, se torna sócia dessa companhia. Significa que ela se beneficia de seu sucesso ou sofre as consequências de seu fracasso. Funciona assim: ao ganhar mais dinheiro, uma corporação com ações cotadas em bolsa remunera melhor seus acionistas. O inverso também é verdadeiro. Nos últimos anos, a estatal brasileira do petróleo lucrou como nunca – e destinou parte dessa fartura a seus sócios. Pessoas como o economista de Brasília Nilo Assis, 56 anos, se beneficiaram desse processo. Há uma década, quando o governo autorizou que os trabalhadores usassem o FGTS para investir em ações da Petrobras, Assis reservou R$ 9,5 mil para comprar papéis da petrolífera. Em dez anos, o montante foi multiplicado por sete. “Tudo o que eu tiver direito de investir do meu FGTS atual, vou aplicar”, diz o economista. Pelas regras divulgadas nos últimos dias pela Petrobras, os trabalhadores que já possuem papéis da empresa que foram adquiridos no passado com o dinheiro do FGTS podem utilizar até 30% do saldo do fundo para comprar um novo lote de ações. “É uma pena que seja possível investir apenas 30% do FGTS, que costuma render muito pouco”, diz o corretor de seguros do Rio de Janeiro João Arcoverde, 25 anos, que pretende aplicar R$ 8 mil em novas ações da Petrobras. De acordo com os cálculos da empresa, 89 mil trabalhadores se enquadram nessa condição. “Não há dúvida de que é um excelente negócio para quem vai usar o dinheiro do FGTS”, diz o economista Walter Furtado, autor do “Guia para Investir em Ações”, sucesso editorial na área de finanças.

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Além dos investidores do FGTS, são prioridade no novo processo de capitalização da Petrobras os atuais sócios da empresa. É o caso do publicitário de São Paulo Marco Franzolim, 28 anos, que tem uma carteira de R$ 18 mil aplicados em ações da estatal. Por que ele coloca seu dinheiro na companhia? “Penso nessas ações como minha aposentadoria”, diz. “Só vou querer resgatá-las num futuro distante.” Há muitos anos as ações da petrolífera têm ajudado a realizar sonhos de milhares de brasileiros. O professor carioca Edson Munhoz, 60 anos, investe nos papéis da empresa desde 1975. “Para mim, sempre foi um ótimo negócio”, diz. “Comprei um apartamento de três quartos e um sítio graças à lucratividade da Petrobras.” Agora, ele quer reforçar seu portfólio com um novo volume de ações.

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FUTURO
O publicitário Marco Franzolim quer usar as ações para ter uma aposentadoria tranquila

Opções para todos os bolsos

Do total de papéis a serem emitidos, 80% serão reservados a quem já é acionista da empresa. O restante será oferecido ao varejo e, segundo a Petrobras, será dada preferência a empregados da empresa. Só depois que todos os atuais acionistas e funcionários fizerem sua opção de comprar ou não mais papéis da estatal é que o restante das ações será oferecido ao mercado em geral (leia quadro com o passo a passo para aplicar seu dinheiro e o cronograma da capitalização). Mas os marinheiros de primeira viagem não têm motivos para se preocupar. O volume de ações colocado na praça é tão gigantesco (a oferta da Petrobras é a maior da história e corresponde a quase o triplo da segunda operação desse tipo já realizada no mundo, feita por uma empresa japonesa de telefonia) que os especialistas garantem que haverá opções para todos os bolsos – pelas regras definidas pela Petrobras, a partir de R$ 1 mil já é possível virar sócio da empresa.
 

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NOVA POTÊNCIA
Gabrielli, da Petrobras, comanda o maior investimento já feito no País

Para as pessoas que não estão habituadas a lidar com o mercado acionário, é difícil saber como ingressar nesse universo sedutor. Em primeiro lugar, o interessado em investir na bolsa deve procurar um banco ou uma corretora de sua confiança (leia quadro). Depois, é importante se informar a respeito das taxas que as instituições financeiras cobram para intermediar o processo. Mais adiante, passa a ser vital acompanhar o desempenho econômico das empresas de seu interesse, o que pode ser feito pela imprensa ou nos fóruns especializados na internet. Somente após cumprir esse roteiro é que a pessoa deve aplicar seu dinheiro na bolsa. Outra dúvida corriqueira diz respeito aos motivos que levam uma empresa a vender ações. No caso da Petrobras, trata-se de uma interrogação ainda mais pertinente, diante da magnitude dos valores envolvidos. Uma empresa realiza uma capitalização (ou, em outras palavras, vende ações no mercado ) por um motivo simples: ela está precisando de dinheiro. A Petrobras anunciou recentemente um plano de negócios ambicioso, que prevê investimentos de US$ 224 bilhões até 2014. Trata-se de um volume tão grande que é impossível fazer com que o projeto siga adiante apenas com recursos gerados pelas operações corriqueiras da companhia. A saída é o lançamento de ações. Desde a descoberta das gigantescas reservas de petróleo do pré-sal, a Petrobras sabe que depende do significativo aumento do nível de seus investimentos para retirar o óleo que está nas profundezas do oceano. Estima-se que a camada do pré-sal contenha cerca de 1,6 trilhão de metros cúbicos de gás e óleo – ou cinco vezes mais do que todas as reservas atuais do País. Para extrair tudo isso do fundo do mar, desenvolver a sua produção e criar a infraestrutura capaz de tornar o produto comercialmente viável, a Petrobras terá de gastar a enormidade de US$ 110 bilhões. Por isso mesmo, o dinheiro da capitalização será fundamental.

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SUCESSO
O professor Edson Munhoz comprou um sítio e um apartamento com os lucros das ações da Petrobras

Num certo sentido, quem comprar ações da Petrobras vai financiar uma das maiores fronteiras do desenvolvimento do País. Se o pré-sal confirmar o seu potencial, o Brasil vai ficar entre os seis países que possuem as maiores reservas de petróleo, atrás apenas de Kuwait, Emirados Árabes, Irã, Iraque e Arábia Saudita. Ato contínuo, os acionistas vão ganhar no embalo desse processo. “A Petrobras tem diversos projetos de expansão, tanto nacionais quanto internacionais, o que para mim é o suficiente para tornar seus papéis interessantes”, diz Jaime Rusinek, 61 anos, um ex-empresário do ramo de alimentação de São Paulo que vendeu seu negócio para se dedicar integralmente ao mercado de capitais. Além de estudar a fundo os números da Petrobras há quase 30 anos, ele é cogestor de um clube de investimento, o 3R, que utiliza como base de seus investimentos os papéis da Petrobras. Apesar do sobe e desce da cotação das ações nos últimos meses, ele afirma que no longo prazo elas nunca decepcionam. “A Petrobras é a prima-dona do mercado”, diz.

PARTE 2