Se Marcel Proust é considerado por muitos o mais perfeito cronista da vida mundana da França no final do século XIX, o americano F. Scott Fitzgerald poderia, com alguma licença poética, ser visto como o seu equivalente para os anos loucos da era do jazz. Mesmo que a obra de Fitzgerald nem sempre seja incluída entre as melhores produções do século XX, é inegável que ela reflete a euforia e o alívio de uma sociedade recém-saída da Primeira Guerra Mundial e crente de que a vida deve ser vivida ao limite das posses de cada um. O deslumbramento e a busca frenética pelo prazer identificam toda a obra do escritor, que acaba de ter lançada a coletânea 24 Contos de F. Scott Fitzgerald (Companhia das Letras, 472 págs., R$ 36).

Fitzgerald foi criticado por ter denegrido o romance em favor dos contos curtos e por ter se limitado a mostrar os ricos, famosos e mimados de sua época – meio no qual ele e sua mulher, Zelda, se movimentaram confortavelmente até a ruína de um e a loucura da outra. Mas o cinismo de sua visão sobre esse mundinho está na origem de uma escola que influenciaria praticamente todas as gerações de boêmios para quem a noite é o palco de uma festa para poucos – os eleitos, os especiais. Não é à toa que o livro chega ao público com uma deliciosa introdução de Ruy Castro, um dos últimos sobreviventes de um Rio de Janeiro que já não existe mais e que criou mitos como Jorginho Guinle e o Copacabana Palace. Um mundo que era a cara tropical do universo fitzgeraldiano.


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