Em seu primeiro livro de contos, Adoro morrer (Rocco, 244 págs., R$ 32), o escritor inglês Tibor Fischer consegue condensar em histórias menores sua marca registrada, ao reunir tramas criativas jogadas no limbo do sofrimento, da decadência e dos instintos obscuros. O livro também reafirma outra característica, das mais atraentes no autor, que é a incrível construção da personalidade dos personagens. As garotas são muito mal comportadas, mas extremamente inspiradoras. Miranda, por exemplo, figura central do conto que dá nome ao livro, é o oposto da “maioria de pessoas certinhas, com empregos bem pagos, razoavelmente estáveis, mas profundamente chatas.” Gosta de deixar essas mesmas pessoas horrorizadas ao saber que alguém com “uma profissão aparentemente excitante e glamourosa, sem garantia nenhuma, possa também ter a ousadia de ganhar dinheiro”.

O errante narrador de Comemos o chef não é menos instigante ao desafiar a própria capacidade do leitor em vestir a carapuça. Afinal, quem consegue assumir que sendo a pessoa certa no lugar certo esteja mesmo assim fadada ao fracasso? Tibor Fischer é, sem dúvida, um dos grandes nomes da literatura inglesa contemporânea. Tem 45 anos, trabalhou muito tempo como assistente de produção de programas infantis de tevê e, como jornalista, foi correspondente do Daily Telegraph na Hungria, terra de seus pais. Há 11 anos, foi indicado para o prestigioso Booker Prize. Não ganhou, mas tudo indica que é só uma questão de tempo.