Uma das primeiras imagens da deliciosa  comédia dramática Copacabana (2001), de Carla Camurati, é o ponto de vista do  defunto Alberto (Marco Nanini), um típico velhinho do bairro carioca, que vê do caixão os rostos de sua turma da terceira idade. Mais além dos cabelos grisalhos dos amigos, um céu infinito se desenha como o de uma nave de igreja. Trata-se da imagem que o fotógrafo, bom vivant e solteirão carioca, viu ao ser depositado, recém-nascido, no altar da Igreja Nossa Senhora de Copacabana. Com uma estrutura parecida à de Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, o filme vai repassando a trajetória de Alberto, que resolveu se despedir da vida justamente na noite de seu 90º aniversário.

Alternando cenas em preto-e-branco e em cores, Copacabana faz coincidir as memórias de Alberto com passagens históricas da chamada Princesinha do Mar. Além de cenas documentárias, como a passagem do Zeppelin e o resgate de um elefante em plena areia da praia, as reminiscências do protagonista foram reconstituídas com grande requinte de época. É assim que, em tom felliniano, surgem na tela os bailes carnavalescos à luz do dia, as noitadas nos cabarés afrancesados e os bailes do Copa embalados pela Orquestra Tabajara. Contrapostas às prostitutas, travestis e meninos de rua dos dias de hoje, as sequências do passado compõem uma bela homenagem ao bairro. E um retrato realista e afetuoso da velhice bem vivida que colore o local.


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