Seguindo o modelo inaugurado pelo Banco Central nos juros, a Petrobras decidiu fatiar o aumento dos combustíveis. Na quarta-feira 14, anunciou um módico aumento de 4% no preço da gasolina e de 6% para o diesel nas refinarias. A Petrobras calcula que nas bombas ? se postos e distribuidoras não abusarem ?, o aumento ficará em 1,6% para a gasolina e 3,8% para o diesel, em média. O mercado achou pouco e acusou a Petrobras de decidir com o olho na política eleitoral. Esperava-se uma correção de pelo menos 10%. Impossibilitada de aplicar um grande aumento às vésperas do segundo turno da eleição, a estatal teria optado por uma meia-sola e a prestações, na tentativa de aliviar as pressões de investidores e acionistas. Como justificativa para a estratégia, o diretor financeiro da estatal, José Sérgio Gabrielli, recorreu à volatilidade do mercado. Segundo ele, os preços estratosféricos do barril no mercado internacional ? na quinta-feira, o óleo light americano chegou a US$ 54,76, a maior cotação em 21 anos, quando começou a ser negociado na Bolsa Mercantil de Nova York ? não devem se manter. Daí, a decisão de fazer uma pequena correção e esperar. ?Decidimos aumentar nossos preços em um porcentual que não afete o nosso mercado interno?, explicou. Mas o próprio governo já sinalizou com novos aumentos. ?Provavelmente, a Petrobras fez um nível de ajuste, talvez não todo o ajuste que ela imagina fazer ao longo do período?, adiantou o ministro da Fazenda, Antônio Palocci. No mercado, calcula-se uma correção extra, superior a 6% em novembro. As cotações recordes são o resultado de uma perversa combinação de fatores. A crise no Iraque e a guerra civil na Nigéria, dois importantes produtores, afetam a oferta. A possibilidade de quebra da maior indústria petroleira da Rússia, a Yukos, reforça o quadro de incerteza. Até a perspectiva de greve dos funcionários da Petrobras entrou na lista de motivos para alavancar os preços. Por outro lado, gigantes consumidores, como China e Índia, vêm puxando cada vez mais a demanda. Os Estados Unidos, outro maciço comprador, estão com estoques de óleo de calefação mais baixos do que o esperado. Segundo os analistas, há também muita especulação, pois é agora, às portas do inverno no hemisfério norte, que os países consumidores começam a negociar o produto. No Brasil, a má vontade do mercado com o ajuste minguado deriva em parte do prejuízo que ele impõe à Petrobras, estimado em mais de R$ 500 milhões até o momento. Com a política de segurar aumentos, é certo que a estatal não repetirá nem de longe o lucro grandioso do ano passado, de R$ 18 bilhões, coisa que está irritando seus acionistas minoritários privados ? boa parte deles estrangeiros. Por isso, logo após o anúncio do aumento, os papéis da estatal caíram nas Bolsas. Estima-se que a defasagem no preço da gasolina ainda esteja na casa dos 18% em relação aos preços do mercado internacional. A lógica dos acionistas tem seu contraponto: ?O consumidor, um grupo enorme, está sendo beneficiado em detrimento dos acionistas, um pequeno grupo?, rebate o ex-líder sindical petroleiro e deputado Luciano Zica (PT-SP). Mais juros ? O aumento anunciado terá repercussão moderada sobre a inflação: 0,08 ponto porcentual em outubro e novembro, conforme os cálculos da Fipe. O problema está nos próximos aumentos e em sua repercussão sobre o índice em 2005. Como se sabe, o BC inaugurou no mês passado um processo de elevação da taxa Selic, o juro básico da economia, com o objetivo de manter a inflação do próximo ano sob controle. Em setembro, aplicou um aumento de 0,25% e, nesta quarta-feira 20, os diretores do BC devem imprimir nova correção, entre 0,25% e 0,5%. Até o momento, a expectativa era de que a Selic fecharia o ano na casa dos 17% e voltaria a cair a partir de março. Agora, uma sombra avança sobre esse prognóstico: ?O Banco Central, que já trabalha com uma meta de inflação exígua, pode decidir manter os juros altos por mais tempo do que se esperava. Ou, pior, poderá ser obrigado a elevá-los ainda mais?, avalia o economista e ex-diretor do BC Carlos Thadeu de Freitas.