Você pode estar envergonhado de nossos políticos por uma infinidade de razões.
Não estou falando de um ou de outro partido.
Nem de Temer, Dilma ou Aécio.
Estou falando do conjunto da obra política que nós construímos voto a voto.
A reação, principalmente nas redes sociais, é do mais fino ódio.
Tem quem esteja horrorizado porque jura que foi golpe; tem os que não suportam o fato de o PT ter ficado tanto tempo
no poder; há uma legião de Bolsonarohaters; outra que odeia Jean Wyllys; os que querem senadores esquartejados em praça pública; o Congresso invadido; os militares de volta; os corruptos punidos com morte lenta; Moro apedrejado; Temer impichado; Cunha ralado como parmesão e por aí vai.
São fartas nossas opções.
Poderia me estender por páginas e mais páginas.
Mas você já entendeu o ponto e estou certo que tem suas próprias úlceras de lamentação.
Então prefiro compartilhar minha maior decepção:
Ô povinho que pensa pequeno, esses políticos corruptos.
Sou obrigado a admitir que Eduardo Paes estava certo, na ligação com o Lula que vazou na imprensa.
A certa altura, se não me falha a memória, o prefeito Olímpico disse algo como “você tira o sujeito da pobreza mas não tira a pobreza do sujeito” se referindo à chacarazinha e ao triplexzinho do Guarujá.
Tinha razão.
Porcaria aquilo, gente.
Compra um cazzo duma vila na Costa Amalfitana e
me enche de orgulho, presidente.
Pelo menos eu ficaria aliviado, sabendo que alguém se deu bem.
Mas não.
Pobreza de espírito é o pior tipo de miséria.
Se eu roubasse bilhões, vocês nunca mais ouviriam falar de mim.
Ou melhor, a ISTOÉ receberia minha coluna cada semana enviada de um ponto do planeta, das mãos do piloto do
meu Gulfstream de US$60 milhões.
Dinheiro de pinga para essa gente.
Você veja, o John Travolta tem um Boeing 707 estacionado na garagem de casa e nem precisou roubar.
Roubar para viver bem – eu não concordo – mas entendo.
Agora, roubar e seguir vivendo essas vidinhas medíocres, trancados em repartições públicas horrorosas, com divisórias de fórmica imitando madeira, plantas de plástico
e carpetes encardidos, isso eu não posso admitir.
Quero ser governado por corruptos de quem eu possa me orgulhar, será que é pedir muito?
Esses sujeitos nos fazem picuinha levando a família para
o interior de Quicherabiboca em aviões da FAB.
E a gente ainda se ofende.
Voar de FAB já é um castigo.
Paga logo uma passagem de primeira classe num vôo
de carreira, poxa vida.
Para que roubar e deixar tudo parado numa conta na Suíça??
Quando arriscam gastar, não podem usar.
É o caso dos carros entulhados numa garagem famosa de Brasília.
Uma Ferrari 458, um Porsche 911, um Lamborghini Aventador, todos deprimidos, abandonados, coitados.
Se fossem meus, abastecia com Prozac.
Carros que nasceram para o glamour das autobans, hoje não podem sequer ganhar o asfalto de Brasília sob o risco de serem flagrados e fotografados.
As mulheres acabam torrando suas mesadas em bolsas cafonas e vestidos óbvios que só podem desfilar quando viajam em comitivas com outros políticos sem inspiração.
Não me ocorre programa mais micado do que um jantar em Lisboa com gente que não acerta uma maldita concordância e suas mulheres que não sabem andar de salto alto.
Roubar merenda escolar é coisa de vilão de desenho animado.
Se descabelar em CPIs jurando inocência?
Faça-me o favor, que vergonha.
Por tudo isso a Operação Lava Jato me enche de esperança.
Expondo a mediocridade da vida que levam os que roubam bilhões, estou certo que virá por aí uma geração de políticos de gosto mais apurado, que saberá o que fazer com o que desviarem.
Quem sabe algum deles, sei lá, compre o Paraguai só de farra.
Assim, finalmente, cumpriremos nosso destino como Nação.
Que me roubem com elegância é só o que posso
exigir como cidadão.


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